terça-feira, 16 de setembro de 2008

O mercado "nervoso" ou engasgos do neoliberalismo

No já clássico "A Era dos Extremos: O breve século XX", Eric Hobsbawn afirma que, com certeza, sem o colapso econômico do entre guerras, fruto do crash na bolsa norte-americana em 1929, não teria havido Hitler. E quase certamente não teria havido Roosevelt.
Mesmo com uma certa resistência às versões "da história que poderia ter sido", não há como afirmar que a crise do liberalismo, que acentuou o fascismo e desembocou na guerra mais mortífera da história, não tenha surgido do rastro daquele dia fatídico. O capitalismo da alta roda sentiu o frio na espinha, financistas estouraram os miolos e o mundo adentrou num túnel negro que só terminaria após o fim da guerra.


Usando as palavras do próprio historiador britânico: "As operações de uma economia capitalista jamais são suaves, e flutuações variadas, muitas vezes severas, fazem parte integral dessa forma de reger os assuntos do mundo"(A Era dos Extremos, pag. 91). "Essa forma de reger os assuntos do mundo" dá mais um sinal de sua essência auto-destrutiva. Nada mais exemplar do que a última segunda-feira, quando a concordata do Lehman Brothers, o 4º maior banco de investimento dos EUA, afundou os mercados. Arautos do mundo financeiro apressaram-se em dizer que essa é a pior crise desde a fatídica quinta-feira de 1929. O neoliberalismo já está em crise, isso é fato, embora o mundo do pragmatismo prefira disfarçar a doença terminal. Mas se a história pudesse se repetir literalmente, de onde viriam os novos Hitler e Roosevelt? Só há uma certeza. Em tempos de ações em baixa e economia em recessão, liberais de carteirinha perdem a língua e "apelam" ao Estado, esse inimigo do indivíduo e do livre-mercado. Passada a crise (se passar), como é de praxe, o Estado será culpado por ela e os especuladores de Wall Street serão apenas "o efeito colateral" da natural ordem do mercado.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O começo do fim em 2001

Nenhuma propaganda anterior aos ataques do 11/09, anunciando um mundo aparentemente pleno de felicidade com avanços tecnológicos, da internet, do fim das guerras ideológicas entre o socialismo real e o capitalismo (com a "vitória" inegável do segundo) e globalização à caminho do progresso teve o poder de eficácia da imagem dos dois aviões seqüestrados atingindo em cheio dois ícones do poder financeiro. Em poucas horas, o planeta parecia estar sendo despertado do torpor da aparente bem-aventurança linear do século XXI por uma nuvem de poeira com cheiro de querosene, entulho e carne calcinada.

Os ataques do 11 de setembro não deixaram somente um buraco no Marco Zero. Criaram um ponto de interrogação gigantesco a respeito dos futuros embates que nos restam. Se os Estados Unidos puderam viver uma hegemônia realmente plena, ela se estendeu da queda do Muro de Berlim até aquela fatídica manhã novaiorquina de aviões seqüestrados. A História já demonstrou mais de uma vez que o que vem do lado oriental é o que sempre surpreende, como uma manhã que nasce antes da hora.

A reação doméstica:


terça-feira, 9 de setembro de 2008

"Oye, una fresa! hoy es mi dia de suerte!"

A popularização do DVD tornou possível encontrar alguns títulos da cinematografia mundial que não se encontrariam tão facilmente há uns 3 ou 4 anos atrás por ai. Nessa leva, vasculhando as baciadas das lojas de departamentos, consegui trazer "Morte e Veneza" de Visconti, "Plata Quemada" de Marcelo Piñeyro, "Guerra e Paz" com Audrey Hepburn, entre outros títulos para minha coleção pessoal. Tudo bem que hoje em dia é fácil baixar o que se queira via torrent, mas nada como um filme a preço acessível, com capa ilustrada, extras e legendas já organizadas.
Minha última boa surpresa dessa leva foi "Morango e Chocolate" do celebrado diretor cubano Tomáz Gutièrrez Alea, com Jorge Perugorría, Vladimir Cruz e Mirta Ibarra. Eu tinha esquecido o quanto o filme era tão degustativo. Mais do que uma película sobre a amizade, as idiossincrasias ideológicas de um regime socialista e a homossexualidade sob o comunismo (condição pária em qualquer regime político, pelo menos até hoje), "Morango e Chocolate" é um brinde à cultura cubana. Principalmente ao apreço à cultura e à intelectualidade, suprimida em alguma instância pela realidade política. O Diego de Jorge Perugorría é a própria celebração dessa Cuba de Marti, Lezama Lima, Reinaldo Arenas.



Infelizmente a capa do DVD traz indicações pouco aprofundadas a respeito do filme. "Morango e Chocolate" não é uma comédia saborosa ao gosto latino, como os jornais norte-americanos anunciaram. Mais do que isso, é um retrato fiel e justo de um país cheio de riqueza intelectual, às voltas com a situação de penúria financeira provocada pela fidelidade a um modo de vida socialisa em um cenário neo-liberal pouco simpático. Fidelidade cujo custo são as liberdades individuais. Mas não há como reconhecer, na criativa vida de Diego e em sua fala sedutora, toda a espontaneidade que é impossível de se ocultar. Quem não viu, veja