terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Israel em Gaza ou defesa com massacres colaterais...

Se Edward Said, um dos maiores intelectuais palestinos do nosso tempo, estivesse vivo, certamente escreveria um longo artigo sobre a última e sangrenta ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Sua observação perspicaz, com toda a coragem que só a liberdade da militância intelectual permite, apontaria as contradições de mais uma aventura militar israelense, que em nome da "defesa de sua cidadania" avança em mortes às centenas. Qualquer observador mais atuante saberia que as ações de Israel, iniciadas na calada do feriado de fim de ano, não resultaria em "apenas" dezenas de mortos. O saldo seria sangrento e bárbaro: homens, mulheres, velhos e crianças mortos, sob escombros. É fácil ser profeta quando se fala em ações do exército de Israel. Mais ainda no vácuo de poder americano e com às vésperas das eleições. Temerosos por sua segurança e influênciáveis pela retórica sionista, os israelenses votam de acordo com a severidade do seu exército. Os palestinos que elegeram o Hamas também votaram de acordo com a rudeza dos seus mais afiados extremistas.


Milhares sem casa, água, comida, remédios. Até a ONU, com seus ouvidos moucos e olhos míopes para a tragédia palestina, sentiu na carne a superioridade das "razões de Estado". Nos últimos dias do governo Bush, o governo de Ehud Olmert parece estar disposto a dar a sua última mostra de unilateralismo. Com Obama surgindo no horizonte, as liberdades de Israel não parecem tão possíveis assim. Quando Condollezza Rice se absteve de votar em uma moção contra o estado israelense na ONU o mundo notou que, mesmo em alianças estratégicas, tudo tem limite. Os foguetes do Hamas apavoram as populações de cidades israelenses. Mas usá-los como justificativa para bombardear escolas com mulheres e crianças parece longe demais da realidade para que a comunidade internacional aceite sem pensar. Existe um abismo de diferença entre a ansiedade por um provável ataque de míssil do Hamas sem direção e a certeza de uma chuva de bombas sobre uma densa área populosa. A imprensa internacional, mesmo que em uma parcela mínima, parece ter entendido a discrepância.

Pela primeira vez parece que o mundo reagiu à uma ofensiva de Israel com um pouco mais de clamor à favor dos palestinos. Longe do ranço do antissemitismo e com uma postura crítica, milhares sairam às ruas para pedir um basta. Os mais otimistas poderiam ver nisso uma guinada em direção a um entendimento maior sobre a realidade de milhares de pessoas, presas em campos de refugiados, vítimas de uma ocupação ilegal e irracional, que faz germinar o radicalismo e a violência dos ataques suicidas. Nessas horas, Edward Said é a melhor indicação para quem quer entender um pouco essa parte do mundo. Os palestinos clamam por serem também compreendidos em sua tragédia que já dura mais de 60 anos. Até brilhantes intelectuais israelenses sabem disso. Para os defensores do Hamas, ler Said é ter também um pouco mais de senso crítico, para dar mais sustentação à acusações e críticas

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