quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Revisão histórica e oportunismo editorial


Nesta quarta-feira de cinzas, em meio a lentidão característica do retorno após o feriadão do Carnaval, o "Entre Aspas", da Globo News, capitaneado pela jornalista Mônica Waldwogel, trouxe à baila a discussão a respeito das mudanças recentes na disciplina historiográfica brasileira. Com o título de "Novos estudos reformulam a História do Brasil", o programa teve como pauta as novas teses que "questionariam heróis e mitos do passado".

Minha primeira reação foi de curiosidade e simpatia. Não é todo dia que os programas jornalísticos resolvem falar sobre a disciplina História e seus últimos desdobramentos, mais ainda em se tratando de Brasil. Um contentamento que teve vida curta. Para discutir o tema, dois polemistas de plantão: o historiador Marco Antônio Villa e o jornalista Leandro Narloch. O primeiro, facilmente reconhecível NESTA entrevista para a nossa já famigerada revista Veja. O segundo, um escriba no melhor estilo "Super Interessante", coletor de polêmicas historiográficas com claras intenções no lucrativo mundo das publicações de almanaque. Na mira, as teses esquerdizantes que, segundo a opinião de ambos, contaminam o ensino e a pesquisa.

Contra um ou outro, e seus objetivos editoriais ou acadêmicos, nada contra. Contra a abordagem do programa, tudo. Narloch e seu lucrativo "Guia politicamente incorreto da História do Brasil," já na lista dos mais vendidos, é um festival iconoclasta sem profundidade, embora calcado em pesquisas acadêmicas. O manual que pretende "derrubar cânones historiográficos" parece ter escolhido bem suas "vítimas". Na tentativa de derrubar os tais mitos, cria outras possíveis verdades interpretativas na cabeça de quem não aprendeu a ter leitura crítica.

Sem dúvida que é fácil encontrar várias teses historiográficas cujo alinhamento ideológico revela sua própria fragilidade científica. Mas daí a incensar um filão editorial que claramente se apóia nessas críticas há um grande abismo. O que realmente faz falta é o debate. Assim como as falácias históricas que ambos apontam, falta pouco exercício crítico. Todos querem falar e serem ouvidos ou publicados. A grande questão é que o mercado editorial e a imprensa dão mais apoio a uma das partes.

Para quem quiser tirar suas próprias conclusões, é só assistir

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O escritor argentino Tomás Eloy Martinez morreu neste domingo, 31 de janeiro, depois de uma longa luta contra o câncer. Romancista brilhante, revolucionou de certa forma o modo de se fazer um romance histórico, ao explicitar o grau de invenção da própria escrita histórica tradicional. Sua literatura soube caminhar pela polêmica estrada do retorno da narrativa, produzindo frutos interessantíssimos de reflexão.

Seu romance "Santa Evita" o tornou conhecido em todo o mundo. Nesta novela impagável, Tomas Eloy revisita o mito de Eva Perón a partir de sua morte e do seu cadáver embalsamado, que desaparece com a queda do peronismo. Longe de ser uma descrição pretensamento pormenorizada e documentada de um mistério mórbido, "Santa Evita" é um mosaico divertido e ao mesmo tempo trágico de uma nação obcecada pela cristalização do passado. Em uma de suas tantas entrevistas, Tomas Eloy Martinez afirmou que a necrofilia é uma enfermidade tipicamente argentina, um produto típico do país, assim como os alfajores e o doce de leite. Essa característica necrófila, para o escritor, se refletia na incapacidade de se construir um futuro e na busca da identidade em um passado de glória cujas esperanças não se realizaram.

Aqui, uma entrevista do escritor e jornalista ao também jornalista Ariel Palácios