segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ícone kitsch e eterno e único carisma

No documentário "Carmen Miranda - Banana is My Business", Helena Solberg faz referência a chegada da pequena notável em solo norte-americano: "Todos perceberam que a Grande Depressão acabara quando Carmen Miranda desembarcou em Nova York".
Se estivesse viva, a mais brasileira das portuguesas, Maria do Carmo Miranda da Cunha, faria 100 anos hoje. Já se escreveu muito sobre Carmen, e sua figura hipnotizante e icônica vale mais do que longos calhamaços. Apenas uma pesquisa no Google já oferece 1.080.000 resultados.
Carmen Miranda é um daqueles exemplos clássicos de como o nacionalismo ainda pulsa poderoso. Basta ler os comentários sobre seus vídeos no Youtube, onde brasileiros e portugueses se engalfinham para definir sua nacionalidade. Quando ela voltou dos EUA em 1940 acusaram-na de voltar "americanizada". Mesmo em sua morte, em 1955, havia quem ainda guardasse mágoa por sua brilhante carreira em Hollywood. E havia os que a enxergavam apenas como instrumento da política de boa vizinhança, ignorando seu genuíno talento. Ver a artista em cena é a melhor maneira de celebrar o inexplicável carisma que ela exerce, nitidamente brasileiro, mas livre de qualquer amarra:

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Alemanha, o papa e a culpa histórica

Se o assunto é Holocausto, a Alemanha não titubeia. O peso do passado é uma lâmpada piscando para cada alemão em qualquer filme sobre o Auschwitz ou em informais conversas de bares e biergartens. No centro de Berlim, ao lado do Portão de Brandenburgo, um imenso memorial cumpre a função de lembrar os cidadãos o seu lúgubre passado recente. Talvez um pitoresco agricultor da Saxônia até sinta-se livre para expressar suas opiniões pessoais sobre racismo, xenofobia, nazismo e genocídio. Mas o governo alemão, desde que a guerra acabou, insiste em deixar claro: o Holocausto é um patrimônio de responsabilidade alemã, assim como é para os israelenses ou para os judeus da diáspora. Se a escravidão foi a chaga do Brasil, o genocídio da população judaica européia é o fardo eterno da nação alemã.
Foi no espírito dessa responsabilidade que a premiê Angela Merkel exortou o papa Bento XVI a deixar claro a posição sobre a negação do Holocausto. Joseph Ratzinger, alemão da Bavária, reabilitou o bispo Richard Williamson, que põe em dúvida a dimensão do extermínio dos judeus pela máquina nazista. Mais uma polêmica e mais gasolina na delicada relação entre o Vaticano e a comunidade judaica.